Boas práticas: antes de estar nas empresas, devem estar nas pessoas

Por Luis Gustavo Cunha, PMP

As relações humanas no mundo corporativo realmente tem se transformado ao longo das últimas décadas. Evidente que a evolução da tecnologia e os métodos de gestão também promoveram mudanças no comportamento das pessoas, na forma de lidar com problemas e, principalmente, na forma como lidar com as próprias pessoas, tudo isso com uma dinâmica muito acelerada, cenários em que gerir crise torna-se fator crítico de sucesso. Mas os bons valores são de extrema importância, frutos da boa educação, da cultura e do meio em que vivemos.

Ao mesmo tempo em que o discurso de trabalho em equipe se apresenta de forma tão valente, o orgulho e o individualismo das pessoas também se mostram cada vez mais muito presentes. Não estou generalizando, é óbvio que há muitas exceções e estas são muito bem-vindas e valorizadas, mas a verdade é que a arrogância, a ambição, o querer ser melhor que o outro e a mania de desvalorizar o trabalho do outro em benefício próprio tem se mostrado muito presente nas organizações.

Isso remete a um livro escrito em 2002 por Mark Lewis, “Pecar para Vencer” (Sin to Win: Seven Deadly Steps to Success), em que o autor faz apologia aos pecados capitais para ter sucesso na vida profissional, afirmando ainda serem esses pecados uma grande fonte de motivação. Orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira – chega a ser uma verdadeira heresia considerando a premissa da produtividade colaborativa. Onde ficam o comprometimento, a lealdade, o senso de justiça, a simplicidade, o cuidado, a boa fé, a amizade?

Ao orgulho, Lewis afirma que as pessoas bem sucedidas são orgulhosas e reitera que se você é o melhor tem que dizer para todos que você é o melhor. A verdade é que isso se tornou um clichê, muitos dizem mas não apresentam resultados e muito menos um comportamento adequado que comprove isso. Ao colocar o individualismo em primeiro plano, quebra-se a cadeia de trabalho em equipe. Lógico que devemos ser firmes, olhar no olho e não colocarmos nosso orgulho como arrogância. A simpatia é uma virtude e ela se conquista com confiança.

A inveja promove um ambiente destrutivo, e Lewis afirma ser um instrumento valioso de motivação. Ora, toda inveja leva a um comportamento muito negativo de ser e ter o que o outro tem. Acredito que devemos seguir como exemplo o que de bom os outros tem e fazem melhor e seguir modelos de eficiência, que na neurolinguística é definido como modelagem mental.

Lewis define a ira como energia, o fazer as coisas com paixão. Só pode ser louco associar a ira com paixão, em qualquer circunstância. A ira desequilibra nosso corpo e mente, nossa energia é tudo e deve ser motivada para o positivo, o bem, o nosso bem e de todos os que nos cercam. Atribui à gula a vontade de querer sempre mais e mais, porém isso pode levar a uma grandeza impossível de conquistar e consequentemente a um iminente fracasso. É fato que devemos ter ambição de crescer, se desenvolver, inovar, compartilhar, conquistar e principalmente ter foco com os objetivos desejados.

Para a preguiça, Lewis usa a teoria dos 20-80 de Pareto para buscar a solução dos problemas da maneira mais fácil possível, com menor esforço. Na prática não é assim que funciona, e, francamente, propor a preguiça como característica dos bem sucedidos é demais. Em todas as pessoas empreendedoras e motivadas você encontrará fontes inimagináveis de disposição, atitude e, principalmente, talvez o mais importante, disciplina.

Sobre a luxúria, Lewis mais uma vez reforça a grandeza do “ter” e “ser”, e cai no mesmo abismo de conquistas desequilibradas. Luxúria não tem relação com felicidade e bem-estar, muito pelo contrário, na maioria das vezes o menos pode se tornar mais, e devemos balancear o que realmente queremos do que realmente precisamos. Para a avareza, o autor se coloca totalmente materialista e afirma que dinheiro é tudo e que compra felicidade. Novamente um erro clássico. Ganhar mais é consequência de coisas bem feitas, do valor que agregamos ao que fazemos, seja para a sociedade, para um negócio e para o mundo que nos cerca.

Independentemente de crença, é impressionante alguém fazer dessas atitudes virtudes para uma convivência pacífica e promissora. É importante a reflexão; também não estou colocando a ética ou moral em questão, mas é fato que a inteligência pode ser usada para o bem ou para o mal, e é natural concluir que tais argumentos podem levar a um mundo muito doente, e consequentemente a uma enorme fonte de angústia, frustração, estresse e até mesmo depressão.

Ainda acredito no pensar ganha-ganha, pois é assim que as coisas funcionam bem e intuitivamente se tornam prazerosas, produtivas e prósperas. Devemos lembrar sempre que as boas práticas antes de estar nas empresas devem estar nas pessoas.

E você, já vivenciou algum desses pecados no seu ambiente de trabalho?

referência bibliográfica: Lewis, Mark. Sin to Win: Seven Deadly Steps to Success. Ed. Capstone, 2002

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